segunda-feira, março 25, 2013

Brasão da Casa Merege




Talvez não seja bem isso. Talvez eu quisesse um unicórnio. Mas não resisti. Querem brincar também? É só dar um pulinho aqui.
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quarta-feira, março 20, 2013

Equinócio de Outono




Pessoas Queridas,

Hoje, no Hemisfério Sul, celebramos a chegada do outono, que é para mim um dos momentos mais significativos do ano. É o único dia além daquele que é sua contraparte – o equinócio de primavera – em que a luz e a escuridão duram exatamente o mesmo período de tempo, o que, em muitas tradições, simboliza um tempo de transformação espiritual.

No caso específico do outono, o equinócio é o momento que marca o início da jornada rumo ao inverno, o qual – por mais ameno que seja – é um tempo de recolhimento, de término de ciclo e de preparação para a nova etapa que começa na primavera. Muitas religiões ligadas à natureza iniciam o outono com um festival da colheita, em que se agradece a generosidade da terra por meio de ritos, oferendas e orações.

Para mim, embora não seja praticante regular de nenhuma religião, as estações sempre tiveram um significado especial, que qualquer um pode comprovar através dos meus livros. O Caçador vive da terra, os povos de Athelgard celebram as estações cada um a seu modo, e o livro que estou escrevendo começa, exatamente, com Kieran contando sobre os acontecimentos a partir do equinócio de outono. O Castelo das Águias e Pão e Arte foram lançados nessa estação, e nela iniciei as postagens do blog que, alguns anos e endereços depois, viria a se converter nesta Estante Mágica.

Como veem, tenho muitos motivos para celebrar a estação, inclusive alguns “extra-literários”, e gostaria de ter tempo e espaço para fazê-lo como se deve. No entanto, vivendo na cidade e em meio à correria diária, isso não é fácil, e tive de me contentar com o essencial. Num parque, perto de minha casa, parei por alguns minutos e observei a natureza à minha volta, depois respirei fundo e me concentrei num agradecimento pelas bênçãos que venho recebendo ao longo destes anos. Que eu continue a merecê-las e possa compartilhá-las com aqueles cujos caminhos cruzarem com o meu. E que o inverno, para todos nós, seja o momento para criar histórias cada vez mais belas, nos livros e na vida.

Tenham um bom início de outono. Até breve!

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Para conhecer os livros citados, veja a página Publicações deste blog.

quinta-feira, março 07, 2013

I de Ismael


Pessoas Queridas,

Retomo a série das Memórias de Leitora com mais um livro que li pela primeira vez em versão adaptada – aquelas da Ediouro – e, seguramente, antes dos dez anos: Moby Dick, a obra mais consagrada do americano Herman Melville.

O livro é tão conhecido e teve tantas adaptações – literárias, para quadrinhos, para cinema e TV – que mesmo quem nunca leu sabe do que se trata: a história de um capitão de perna de pau empenhado em caçar uma imensa baleia branca nos mares do norte. Vista em conjunto, sua tripulação representa todo o espectro dos seres humanos, a começar pelos imediatos, brancos, mas com diferentes temperamentos – um bondoso, um fleumático, um colérico – e prosseguindo com os arpoadores, todos provenientes de terras “exóticas” e portanto representados como tipos bizarros, idólatras e cobertos de tatuagens. Um deles, Queequeg, se torna o melhor amigo do narrador, cujas primeiras palavras também são conhecidas por muita gente que não chegou a ler o livro: Call me Ishmael, que a adaptação da Ediouro, se bem me lembro, traduziu como Meu nome é Ismael.

Essa linha é considerada por alguns estudiosos como uma das melhores aberturas de romance de todos os tempos: simples, direta e cheia de significado. Quem é de fato Ismael? Mesmo ao longo do livro, sabemos muito pouco sobre o narrador, que carrega o nome do filho exilado de Abraão e que faz camaradagem com Queequeg: um cara legal, mas que, vamos concordar, o autor descreve como uma espécie de “bom selvagem”. Ismael participa dos acontecimentos do livro, mas não está no centro deles, pois esse é um papel que cabe a Ahab – o capitão obcecado – e, frequentemente, à tripulação como um todo, nas cenas que descrevem o duro dia-a-dia no navio baleeiro. Na versão integral da obra elas ocupam longos capítulos, mas na adaptação que li eram bastante condensadas, deixando sobressair aqueles que são os pontos fortes de Moby Dick: as questões psicológicas e metafísicas, inerentes à condição humana, e, é claro, a aventura.

Provavelmente foi o segundo ponto que mais me interessou e motivou a leitura quando eu tinha dez anos. Desde aquele tempo, gosto de histórias que descrevam as coisas do cotidiano, mesmo em literatura fantástica; gosto de ver os personagens entrando em albergues, comendo ensopado (prato preferido dos escritores de aventura e fantasia, ao que parece), encontrando tipos estranhos e aprendendo a conviver com eles. Mais tarde seriam os anões e elfos, nesse livro era o nativo dos mares do sul, com quem Ismael partilha inclusive a cama. A descrição do cotidiano a bordo do Pequod também era viva, cheia de interações e nuances escritas de um jeito que para mim lembrava o de Jack London, autor de outro livro favorito, Chamado Selvagem. Enfim, um romance de aventura que muito me empolgou, fazendo com que eu discorde dos estudiosos que afirmam ser ele pura metafísica.

Citando de cabeça um texto lido há alguns anos, Jorge Luis Borges afirmou que Moby Dick é um texto infinito: que a busca de Ahab não se completa, pois a busca do homem pela compreensão de si mesmo e de seu papel no universo jamais terminará. Nesse ponto, sim, concordo, como concordo que a baleia branca pode ser vista como um símbolo. Tendo arrancado a perna de Ahab, ela simboliza a parte do capitão que escapa a ele mesmo, sua conexão com os mistérios, aquilo que ele persegue sem cessar e nunca poderá possuir, porque jamais teremos resposta para as perguntas que mais nos inquietam. Todos nós somos assim, por isso a tripulação é arrastada pela obsessão de Ahab, salvando-se apenas Ismael, que fica à deriva no caixão mandado fazer por Queequeg – fatalista, o arpoador estava convencido da própria morte iminente – e é recolhido por um outro navio, cujo capitão buscava seu filho perdido no mar e que, afirma Ismael, “das águas recolheu um órfão”.

Isso também é altamente simbólico, assim como a baleia, e talvez confira um outro nível de profundidade à leitura; pode ter sido mesmo a intenção do autor, mas, sinceramente, a metafísica deve ter passado longe da maioria dos leitores. A ponta do iceberg é visível – a baleia branca representa algo inatingível – mas ela é também a baleia de carne e osso que levou embora a perna de Ahab, e a jornada do capitão em busca de seu inimigo propicia momentos deliciosos para os leitores de aventura. Em outras palavras, o que me empolgou, quando criança, ao ler o livro foi a história que ele conta e a maneira como o faz. Já lá se vão mais de trinta anos e ainda me lembro das cenas com os arpoadores, da amizade entre Ismael e Queequeg, do enfrentamento entre Ahab e o primeiro-imediato e do realismo das cenas de perseguição às baleias. Como nos livros de London, pude perceber que o autor esteve lá, que viu e viveu aquilo tudo; e, simbolismo e metafísica à parte, o que tornou essa obra inesquecível foi ele ter conseguido partilhar isso comigo através de uma deliciosa narrativa.

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Post ilustrado com a capa de uma outra edição da Ediouro, posterior àquela que eu tinha, que era pequena e de capa branca. Não está mais lá em casa, mas creio que era a mesma adaptação, feita por Carlos Heitor Cony.

sexta-feira, março 01, 2013

Um Poema de Zitkala-Sa


The voice of the Great Spirit is heard
Into the twittering of birds,
The rippling of mighty waters,
And the sweet breathing of flowers.
If this is Paganism, then at present, at least,
I am a Pagan.
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Pessoas Queridas,

Não sei se já viram, mas há um lance muito legal rolando no blog Livros de Fantasia. Perguntas sobre meu trabalho, a vida de escritora, Athelgard e muito mais podem ser deixadas lá; eu responderei a todas, e o site premiará com marcadores as que forem consideradas mais interessantes. Espero contar com a participação de vocês.

As respostas serão dadas dentro de alguns dias, mas, como uma das perguntas foi sobre a inspiração para criar Anna de Bryke, veio-me à mente uma autora que li há algum tempo e cujo trabalho me encantou. Ela, Zitkala-Sa, foi de certa forma uma Mestra de Sagas como Anna: transitando entre sua cultura de origem (Dakota Sioux) e a europeia, compilou histórias tradicionais de seu povo, foi co-autora da primeira ópera de temática nativo-americana e teve uma intensa participação na política da época, sempre lutando pelos direitos dos nativos.

Para iniciar o mês de março com o pé direito, deixo, então, esse poema de Zitkala-Sa, que tem a ver também com Anna e diz muito sobre mim. Ou o poema tem a ver comigo e a autora com Anna? Tanto faz. A essa altura acho que todo mundo sabe que Anna de Bryke sou eu. :)

Até a próxima!
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Imagem: "Great Spirit", tirada daqui.