quinta-feira, dezembro 29, 2005

Top 15 2005 (Final)

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Neste último post do ano, as dicas são muito especiais. Sei que nem todos os leitores deste blog curtem o gênero fantástico, mas eu não poderia deixar de mencionar algumas das (muitas) obras geniais que li este ano e que podem se enquadrar nessa denominação. Vocês entendem, né? ;)

Antes de começar, quero salientar que os dois primeiros livros, embora possam agradar a todas as idades, são adequados ao público mais novo, a partir de nove ou dez anos. Se vocês não gostarem, fica a sugestão para seus filhos, sobrinhos e alunos. Mas eu achei o máximo.

Então, com vocês, aqui vai a Seleção Merege de


Fantasia, FC e Realismo Mágico

A Sétima Torre
, série de Garth Nix. Trata-se de uma série de seis livros, publicados pela Nova Fronteira: fantasia com um toque de ficção científica e mitologia. Lembra um pouco Philip Pullman, mas sem o simbolismo cristão de A Bússola Dourada e suas seqüências. A série conta a história de Tal, um adolescente que vive num mundo dividido em níveis e iluminado por cristais de força, e que, ao sair de sua torre, descobre todo um universo de coisas, pessoas e seres que contrariam tudo em que acreditava até então. A ação e os elementos psicológicos são bem dosados e a história prende a atenção. Bem legal, dentro do gênero.

A Montanha dos Trolls, de Katherine Langrish. Uma das melhores surpresas deste ano, edição da Record. A obra é ambientada na Escandinávia medieval e conta a história de Peer (homenagem ao Peer Gynt, de Ibsen?), um menino que, ao perder o pai, vai morar com dois tios que tomam conta de um moinho. Os vizinhos mais próximos: uma simpática família de fazendeiros e um bando de trolls, uma espécie de ogros do imaginário local, sempre em disputa com os humanos por uma ou outra coisa. O realismo das descrições surpreende, e, para quem gosta de mitos e folclore escandinavo, ou mesmo de duendes em geral, é imperdível.

Medicine Road, de Charles de Lint, ilustrado por Charles Vess (de Stardust) e, infelizmente, sem tradução no Brasil. Mais para quem gosta de histórias românticas com um toque de Magia, nesse caso a xamânica (hehehe). No início dos tempos, o Coiote (leiam artigo sobre ele aqui na Estante - é só procurar na lista de posts) deu a dois animais a forma humana, por um prazo limitado, com a condição de só conservá-la se eles encontrassem um amor verdadeiro e incondicional. A garota já conseguiu, mas para o rapaz, Sam Red Dog, as coisas são um pouco mais difíceis. Será que a chegada de duas cantoras folk pode mudar tudo? Só lendo para saber!

Os Portais de Anúbis, de Tim Powers. Livro publicado pela Editora 34 na década de 80. Usando a Magia (alguns diriam tratar-se de Ciência) aprendida com os sacerdotes do Antigo Egito, um homem atravessa os portais do tempo apoderando-se dos corpos jovens e fortes de pessoas que atravessam seu caminho. Misturam-se, aqui, elementos góticos, fantásticos e esotéricos, numa trama cheia de reviravoltas e revelações. Uma leitura densa, não muito fácil, mas interessante, com cada detalhe se encaixando perfeitamente na bem-elaborada trama central.

The Famished Road, de Ben Okri. Obra-prima do realismo mágico africano, conta em primeira pessoa a história de Azaro, um menino que mantém uma estreita ligação com o mundo dos espíritos, mas que, apesar dos constantes chamados para retornar ao outro lado e de muitas dificuldades sociais e materiais, insiste em continuar vivo. Sua família - na verdade apenas os pais ignorantes, mas lutadores e freqüentemente amorosos - reflete, em seu dilaceramento, o drama pelo qual passam muitos países da África, entre fome, guerras e conflitos de interesses nos quais sempre acabam por sofrer as conseqüências. Simplesmente maravilhoso.

.....

Bom, gente... vou ficar por aqui. Apesar dos percalços, foi um prazer, como sempre, escrever os posts deste ano, e mais ainda partilhá-los com vocês. E já vou deixar uma dica do que vos espera no ano que vem: recordações e mais recordações dos meus primeiros 16 anos como leitora, ou seja, dos livros que li até os 20 anos de idade. Vai ter um pouco de tudo, de A a Z... e vai ficar bem legal. Pelo menos é o que eu acho! Mas quando começar vocês me dizem.

Agora, ao apagar das luzes de 2005, às primeiras de 2006, quero desejar a todos um ótimo reinício - de vida, de relacionamento, de luta pelos objetivos. E ano que vem já sabem... não deixem de passar por aqui, OK? ;)

Feliz Ano Novo!

Até breve!

Ana Lúcia

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Top 15 2005 (Parte 2)

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Fiquei muito feliz com a repercussão das primeiras dicas do Top 15. É um prazer partilhar minhas experiências com vocês... eu estou preparando uma surpresa, neste sentido, para o ano que vem. Aguardem!

Por enquanto, aproveitando o dia em casa (rodízio de folgas na BN, para compras de Natal), vou deixar aqui a segunda leva da seleção deste ano. A categoria é

Melhores Romances

Balzac e a Costureirinha Chinesa
, de Dai Sijie. Num dos programas de "reeducação" determinados por Mao Tse-Tung na China, no final da década de 60, dois jovens universitários são enviados a uma aldeia nas montanhas, onde devem aprender a viver como os camponeses. A amizade de uma moça da região, conhecida como "A Costureirinha", viria a mudar a vida de ambos. Mas a grande transformação se daria mais tarde, com a descoberta de uma mala repleta de livros proibidos (não só Balzac, mas também Zola, Flaubert, Dostoievski, entre outros), através dos quais o narrador e seus companheiros passam a conhecer uma outra realidade. Um romance no qual o livro aparece como instrumento de prazer e libertação, e, o que é importante: uma obra que ocasiona mais risos que lágrimas, sem o "peso" de outros (necessários) livros sobre a China Vermelha ou a atual.

A Bíblia Envenenada, de Bárbara Kingsolver. Tendo como pano de fundo a luta do então Congo Belga pela independência, esse livro admiravelmente escrito narra a história dos missionários (fictícios) Nathan e Orleanna Price e de suas quatro filhas, cujas vidas, crenças e propósitos se transformam em contato com a realidade da África. Em destaque: a complexidade e riqueza dos personagens, cada um dos quais reage de uma forma às mudanças com que se vê confrontado. Este livro ficará em minha estante por muitos anos.

A Quarentena, de J. M. G. Le Clézio. Em 1891, Jacques e Suzanne, um jovem casal de franceses, embarcam para as Ilhas Maurício acompanhados de Léon, o irmão ainda mais jovem de Jacques. Uma epidemia de varíola os confina, com uns poucos compatriotas e um bando de indianos "importados" para trabalhar nos canaviais, a um rochedo vulcânico isolado no meio do mar. Ali, durante o tempo de quarentena, vozes se erguem do passado para contar a história de Ananta - uma inglesa, indiana por adoção, que retornou voluntariamente à ilha após muitos anos - e para criar uma nova dimensão da vida e do futuro aos olhos de Léon. Sensível, poético e às vezes muito triste: um belo livro.

Anjos Caídos, de Tracy Chevalier. O mais recente (até onde sei) livro da autora de Moça com Brinco de Pérola conta a história de duas famílias, os Coleman e os Waterhouse, que se conhecem num cemitério londrino, um dia após a morte da Rainha Vitória. Através da amizade de suas filhas e da (secreta) cumplicidade destas com o filho do coveiro, desenvolve-se uma trama densa, rica em sutileza e complexidade, tendo como pano de fundo as mudanças - como o voto feminino - que se impõem sobre a sociedade inglesa daquele período. Muito, muito bom!

O Que Eu Amava, de Siri Hustvedt. Um livro que comprei ao acaso e me surpreendeu pela profundidade de seus personagens. Nele são narrados vinte e cinco anos de amizade entre o crítico (e narrador) Leo Hertzberg e o pintor William Wechsler: dois homens muito diferentes, mas unidos em seu amor e devoção à arte, até que duas tragédias - uma súbita e inesperada, outra uma condição que se revela ao longo do tempo - contribuem para abalar os laços criados pelos interesses em comum e amizade recíproca. Salman Rushdie gostou e recomenda. Eu também.

.....

Bom... é isso aí. Espero que gostem destas dicas!

Ao longo da semana, tentarei fazer uma visita aos "cantinhos" de vocês, mas, se não der, ficam desde já os meus votos de um excelente Natal: um tempo de alegria, celebração, reflexão e muita paz junto àqueles que amam. O Ano Novo... Bom, até lá, com certeza, vai haver mais um post por aqui!

Abraços carinhosos,

Ho ho ho a todos!

Ana Lúcia

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Top 15 2005 (Parte 1)

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Já nem me desculpo pelo tempo que levo sem postar e sem aparecer nos cantinhos de vocês. Aqui em casa, além do tempo escasso e da conexão ruim, são poucas as páginas que consigo abrir, e o servidor da BN resolveu seguir tardiamente o exemplo de nós outros, também servidores, mas de carne e osso. Ou seja, está em greve. Assim, passam-se dias e dias sem que eu consiga atualizar a Estante. Vamos ver se as coisas mudam no ano que vem.

Com todas as dificuldades, eu não poderia deixar de cumprir a tradição estabelecida nos anos anteriores, com o "Top 20" de dicas literárias. Este ano, no entanto, vai ser "Top 15", não porque eu tenha lido menos ou porque faltem bons livros, mas porque resolvi me limitar a três categorias. Aqui vai a primeira leva... Espero que gostem!

5 livros de não-ficção

Herdando uma Biblioteca
, de Miguel Sanches Neto. Já citei este livro aqui, no post em que contei a vocês por que havia me decidido a publicar mais uma obra independente, mas vale repetir a dica. Os ensaios de Sanches Neto - sobre livros e bibliotecas, sobre o ofício da crítica, sobre o que é ser um leitor de ficção no mundo das "informações rápidas" - são lúcidos, precisos e por vezes divertidos. Nota 10 para Miguel.

Ler, Escrever, Fazer Conta de Cabeça, de Bartolomeu Campos Queirós. Para quem gosta da literatura (dita) infantil, Bartolomeu dispensa apresentações. Para quem não conhece, esta é uma oportunidade de entrar em contato com um dos mais sensíveis autores brasileiros, através do que ele faz melhor: resgatar as lembranças de sua infância, bagagem que seria amplamente utilizada em seus (muitos e bons) livros.

A Louca da Casa, de Rosa Montero. Irreverência é a tônica dos ensaios da escritora e jornalista espanhola ao falar de seu ofício e de tudo aquilo que o rodeia. O destaque vai para as impagáveis (três, creio) diferentes versões do que teria sido seu caso com um ator famoso, mostrando que a imaginação pode, sim, reinventar e até subverter a realidade. Eu recomendo!!

Ilhas do Tempo, de Ana Maria Machado. Neste livro estão reunidos alguns textos que são, na maioria, conferências dadas pela autora no Brasil e em outros países. Em pauta, literatura "infantil" e para todas as idades, o hábito da leitura, a trajetória de Ruth Rocha (cunhada de Ana Maria, para quem não sabe) e algumas observações pertinentes sobre o que é ser um escritor no Brasil e fora dele. Vocês sabiam que as editoras americanas têm um "número padrão" de páginas e palavras adequadas a cada faixa etária, e você está "fora" se escrever um livro 20% mais longo do que isso? Bom, aqui deve ser igual, mas pelo menos não estamos sozinhos em nosso cerceamento da criatividade.

Gramática da Fantasia, de Gianni Rodari. Este é um clássico. O professor italiano fez pela escrita mais ou menos o mesmo que o francês Pennac fez pela leitura: soltou-a no meio de seus alunos e deixou acontecer. Vai daí, histórias surpreendentes, criadas por crianças que antes estavam presas a cartilhas e a redações tipo "O que você fez nas férias". Bom para pais, professores e subversores de todas as idades.

E aí? Que tal? Pois é... Como viram, quando eu não estava lendo Literatura, estava lendo sobre Literatura. De qualquer forma, mesmo para quem não trabalha na área, esses são livros muito legais, sem os tecnicismos que podem tornar aborrecida a leitura até dos temas mais interessantes.

Espero que tenham gostado destas dicas. Semana que vem, se tudo der certo, tem mais. Até lá... e boas leituras!

Abraços pra vocês,

Ana Lúcia